A Comissão Regional de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro vem a público repudiar a crescente onda de ações violentas de grupos, institucionalizados ou não, no Rio de Janeiro, contra segmentos historicamente minoritários ou deliberadamente excluídos da sociedade.

Charge de Carlos Latuff. Uso autorizado pelo autor.
Os relatos das ações de “justiceiros” que se organizam para expulsar (e até dizimar) de (e em) áreas da cidade do Rio de Janeiro “elementos suspeitos” ou indesejados, como jovens negros e pobres ou homossexuais se assemelham às histórias passadas no período da ditadura civil-militar brasileira, onde os direitos democráticos não existiam e os considerados “indesejáveis” ou “perigosos” pelo regime de exceção eram perseguidos, assassinados e “desaparecidos”.
Infelizmente, o mesmo quadro de violenta opressão também pode ser observado nas incursões da Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro, que prefere invadir aleatoriamente as comunidades por conta de combater o tráfico organizado a planejar ações de busca e apreensão dos possíveis infratores da lei nessas regiões*. Ao adentrar comunidades de forma violenta e conflituosa, o saldo deixado pela polícia carioca é de disseminação de uma cultura do medo e terror nessas regiões, além de um rastro de pessoas mortas, sobretudo jovens e negros.
Nesse panorama, o papel do psicólogo – profissional que, onde quer que atue, lida com a subjetividade humana – é fundamental para produzir reflexões críticas e singulares para além de modelizações teóricas e de reverberações das subjetividades produzidas de forma hegemônica. A Psicologia, como ciência e profissão, assim como as demais, não é neutra. Os psicólogos podem e devem atuar de forma propositiva buscando espaços para participar de formulação de políticas públicas que possam garantir direitos equânimes para todos, ajudando a combater a nefasta construção de que existem pessoas e grupos “matáveis” – os “perigosos”, os “não-humanos”.
É papel do psicólogo a busca de participação ativa na promoção dos Direitos Humanos para todos de forma ética e socialmente responsável como preza o nosso Código de Ética Profissional.
* É importante ressaltar que a luta em prol dos Direitos Humanos não pode ser confundida com a defesa de criminosos ou de infratores da lei, como tentam fazer acreditar setores da mídia – por desinformação ou por outros propósitos. Direitos Humanos são construídos coletivamente por meio de lutas dos movimentos sociais. Lutar pela prevalência dos Direitos Humanos em qualquer circunstância é pelejar pela garantia dos direitos básicos de todos, e não apenas de alguns setores ou grupos.