O Conselho Regional Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-RJ) tem buscado discutir questões que vão além da prática da profissão, mas também visando a construção de uma sociedade melhor e mais justa. Por isso, na semana de celebração do dia da Consciência Negra (20 de novembro), o Conselho destaca um tema pouco lembrado nas discussões sobre igualdade racial: a saúde da população negra.
Desde 1991, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do Governo Federal, inclui em seus questionários sobre mortalidade e expectativa de vida a raça declarada pelo entrevistado. Em 2000, o índice de mortalidade de crianças negras de até cinco anos era de quase 50 a cada mil nascidas, enquanto morriam menos de 30 crianças brancas a cada mil. A média nacional era de 39,32 mortes por mil.
A disparidade aparece também nos números do Ipea sobre expectativa de vida ao nascer. Uma criança negra nascida em 2000 teria cinco anos a menos de vida que uma branca. Para a psicóloga Maria da Conceição Nascimento, Mestre em Psicologia e participante do Fórum das Relações Raciais, isso não acontece por acaso: “O acesso da população negra à saúde é dificultado porque os negros são maioria entre os mais pobres”.
A criação, em 2009, da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra pelo Governo Federal não significa o esgotamento da discussão. “Certas doenças apresentam maior prevalência em negros, não por serem doenças que só atingem essa parte da população, mas porque é a parte com mais dificuldade de acesso à saúde” explica Conceição.
As iniciativas como o I Encontro Nacional de Psicólogos(as) Negros(as) e Pesquisadores(as) sobre Relações Interraciais e Subjetividade no Brasil (Psinep) e o Dia Nacional de Mobilização Pró-Saúde da População Negra (27 de outubro) são fundamentais para discutir como o racismo se constitui no Brasil e a necessidade de combatê-lo. Para alcançar tais metas, o I Psinep elaborou a Carta de São Paulo, documento que pretende ser referência sobre a temática para a prática profissional.
Conceição, que participou do Psinep, dá um exemplo claro da forma sutil com que o racismo “à brasileira” se manifesta: “Não é tão comum ver médicos e médicas negras. Com isso, a maioria das pessoas, quando veem um negro ou uma negra de jaleco em um hospital, pensam que é um enfermeiro ou enfermeira ou ocupante de profissão de menor prestígio. Por trás desse espanto, que pode não ter a intenção de discriminar, mas é uma discriminação, podemos dar conta de como o racismo tem definido os lugares das pessoas na sociedade”, afirma.
A psicólga diz ainda que “é preciso perguntar por que temos poucos negros e negras em profissões de maior prestígio, e não achar que isso é natural, afinal, metade da população brasileira é negra e parda, segundo classificação do IBGE. De um modo geral, se vê com naturalidade a ocupação dos lugares na sociedade. O papel da Psicologia deve ser, dentre outras ações, provocar uma desconfiança sobre essa naturalização” conclui.