No dia 10 de julho, o Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas do CRP-RJ (CREPOP-RJ) realizou, em Petrópolis, o primeiro encontro do seu terceiro ciclo de 2009: Mobilidade urbana, transporte e trânsito. O objetivo de promover eventos nas cidades do interior do estado é levar as discussões pertinentes aos psicólogos para além do eixo da capital.
A psicóloga Beatriz Adura Martins (CRP 05/34879), assessora técnica do CREPOP-RJ, abriu o encontro apresentando os objetivos e o funcionamento do CREPOP. “Fazemos uma convocação geral de todos os psicólogos da área pesquisada no ciclo. Trabalhamos com quatro ciclos por ano e, em cada um, fazemos um encontro na capital e um no interior. Nesses grupos, pensamos com os psicólogos suas práticas. Também há um questionário online, disponível no site do CREPOP, para ser respondido por profissionais do campo”.
Beatriz acrescentou que, a partir do que é discutido nos grupos, é feito um relatório, enviado por e-mail para todos os participantes. “Quando vocês nos enviam de volta, com sugestões, nós finalizamos e enviamos para o CREPOP Nacional. Todos os conselhos regionais também enviam seus relatórios, que darão origem ao a um documento de referência nacional, que ficará disponível no site do CREPOP”.
A psicóloga ressaltou ainda que, após a publicação do documento final, é realizado um encontro com os psicólogos para debatê-lo. “Nosso objetivo é fazer com que todos os psicólogos participem ativamente dos debates sobre sua prática e da construção do próprio Conselho, para criarmos referências a partir do coletivo”, disse.
Foi realziada uma atividade sociodramática com os participantes que, depois, foram convidados a debatê-la, dizendo como se deixaram afetar pela história, que referencial teórico trouxeram e como viram as situações encenadas.
Em seguida, foi iniciada uma atividade sociodramática com os participantes. Primeiro, todos foram divididos em duplas para se conhecerem e, após, apresentarem o outro em primeira pessoa, como se estivessem falando de si próprios. Segundo o conselheiro Lindomar Expedito Silva Darós (CRP 05/20112), coordenador do CREPOP-RJ, “esse exercício é muito interessante para quem trabalha falando do outro. Gosto muito de fazer essa troca de papéis, mas sempre tendo consciência de que nunca damos conta de tudo o que o outro é”.
Os participantes também aprovaram a experiência. “É uma atividade importante para nós, que trabalhamos fazendo seleção e temos que fazer pareceres sobre o outro. Então, temos que prestar atenção nesse outro”, afirmou uma psicóloga que trabalha com recursos humanos de uma empresa de transportes.
A atividade continuou com uma conversa entre os presentes, que se juntaram para trocar experiências e criar uma história relacionada à área de transportes, trânsito e mobilidade urbana, que poderia ser inventada ou criada a partir de uma história real. O caso escolhido foi intitulado “O patinho feio” e girava em torno de uma empresa de transporte de carga seca, que era “marginalizada” dentro do ramo, assim como seus profissionais.
“Essa é uma situação que realmente acontece. As empresas de transportes são malvistas e, entre elas, as piores são as de carga seca. Assim, os profissionais preferem ir para outras empresas e, para essas, só vão os que não conseguiram emprego em outro lugar. Ou seja, pessoas de baixa escolaridade e pouco capacitadas”, explicou uma psicóloga que trabalha no RH de uma dessas empresas.
“E nós, do RH de empresas de transportes, também somos marginalizados. Raramente somos convidados para encontros de Recursos Humanos, por exemplo”, acrescentou outra psicóloga presente.
Além dessas questões, a dramatização abordou também situações que aparecem no cotidiano dessas empresas, como o desafio de valorizar o trabalho dos funcionários, o estresse a que os motoristas profissionais estão submetidos, a falta de acessibilidade nos ônibus, tanto para passageiros quanto para motoristas, a forma como são feitos a análise de currículos e o processo seletivo, o modo de lidar com candidatos rejeitados que ameaçam os profissionais de RH, as indicações de candidatos por pessoas influentes (comum em cidades pequenas, segundo os presentes) etc.
Após a dramatização, os participantes foram convidados a debatê-la, dizendo como se deixaram afetar pela história, que referencial teórico trouxeram e como viram as situações encenadas. “Achei muito interessante nos colocarmos em situações em que nunca estivemos e pensar o que faríamos”, declarou uma participante.
Os psicólogos analisaram ainda algumas de suas práticas, como a avaliação psicológica no Detran. “Muitas vezes, temos que avaliar as pessoas a partir de testes psicológicos, mas as pessoas são diferentes e, para cada uma, deveria haver uma avaliação diferente. Uma vez, um motorista de táxi foi reprovado no teste, mas voltei com ele para casa e vi que ele dirige muito bem. Por que negar a renovação de carteira a ele?”, exemplificou uma psicóloga dona de clínica do Detran.
Encerrando, os presentes fizeram uma avaliação positiva do encontro. Os participantes destacaram a importância da troca entre a categoria e lamentaram não haver muitos psicólogos da região presentes. “É triste não estarmos tão bem representados, porque essa troca é muito boa”, declarou uma participante.
Texto e fotos: Bárbara Skaba
13 de julho de 2009