Debate teve participação do publicitário Roberto Menna Barreto
A mesa Publicidade e a Produção de Subjetividade, do segundo dia do Seminário Mídia e Psicologia trouxe posições bastante diversas em torno de questões como a regulamentação da publicidade no Brasil, publicidade direcionada para crianças e conteúdo de programas de TV. Os debates contaram com a participação de Noemí Friske Momberger, advogada especialista em publicidade infantil, Rachel Moreno, do Instituto de Psicologia da USP e do publicitário Roberto Menna Barreto.
Noemí criticou o excessivo número de horas que as crianças gastam em frente à TV e fez uma exposição sobre a situação da publicidade direcionada para crianças, em diversos países do mundo, comparando-a com a questão brasileira: “A televisão realmente se tornou a babá das crianças. Pesquisas apontam o grande poder que personagens de histórias, heróis, exercem sobre o psiquismo da criança. E não adianta dizer que é só trocar de canal, porque os pais não estão em casa, e mesmo quando estão, não conseguem controlar os filhos, é muito mais fácil que a criança fique em frente à televisão, quietinha, enquanto a mãe faz os afazeres de casa”, disse ela.
“De acordo com o sociólogo sueco Erling Bjuströn, somente aos 12 anos as

A mesa “Publicidade e a Produção de Subjetividade” trouxe posições bastante diversas para o debate.
crianças conseguem estabelecer a diferença entre a publicidade e os programas. A Suécia proibiu totalmente a publicidade direcionada a menores de 12 anos. Na Alemanha, nenhum programa infantil pode ser interrompido por publicidade. Na Bélgica, isso não pode acontecer nem cinco minutos antes, nem cinco minutos depois do programa infantil”, disse a advogada.
Rachel Moreno apontou a diferença entre a qualidade de vida das sociedades em que há regulamentação da publicidade e o Brasil, país em que a regulamentação não existe: “No Brasil, as crianças tomam refrigerante dez, quinzes vezes mais que as crianças suecas; as crianças suecas tomam muito mais sucos que as brasileiras”, respondeu ela, à pergunta de um participante. Segundo Rachel, as pessoas devem questionar mais os seus hábitos de consumo.
O publicitário Menna Barreto também falou sobre a necessidade de mudança de hábitos por parte das famílias. Ele disse não saber como fomentar um senso crítico em relação à propaganda, mas, assim como Rachel, falou de uma conscientização dentro das próprias famílias: “Acho que os pais são os responsáveis, eles têm que levantar o padrão de vida, levar a família a passeios, levar ao teatro. O cinema e a TV são veículos que levam à passividade. O teatro não é assim, você vê o que quiser. A maioria dos pais se acomoda, é preciso fazer com que os filhos tenham aventura. Minhas filhas foram educadas sem televisão, e nunca sentiram falta dela”, disse ele.
Noemí criticou a colocação do publicitário, afirmando que uma reeducação dentro do seio familiar não é algo fácil: “Se o senhor conseguiu, isso é uma minoria. Isso é viável para as pessoas que têm um determinado padrão aquisitivo. Para quem tem cinco, seis filhos, isso não é possível, viajar de barca, ir ao teatro. O trabalhador não tem dinheiro, a maioria das pessoas trabalha o dia inteiro, faz horas extras. Nós devemos lembrar que a TV é fruto de uma concessão pública, devemos pressionar os proprietários da televisão, para que as emissoras de TV melhorem sua qualidade”, disse a advogada. “Vamos escrever artigos, pressionar nossos governantes”, ressaltou Noemí.
Menna Barreto refutou: “Não é verdade que se precisa de muito dinheiro para ter qualidade de vida. O Theatro Municipal, aqui no Rio de Janeiro, tem apresentações a um real”, disse. Ele lembrou que acessos a centros culturais na cidade do Rio de Janeiro são gratuitos. “Concordo 100% com a política de pressionar o governo, mas não posso deixar de exigir qualidade no meu lar”, declarou ele. O publicitário falou que é interessante mostrar como a propaganda é feita: “mostrar que a ração de cachorro no comercial tem fígado embaixo da tigela em que ela é servida, mostrar que o cachorro fica dois dias sem comer e, por isso, ele sai correndo até ela. É interessante mostrar que o gás que sai do refrigerante no comercial é gás metano”, disse Menna Barreto.
“Desconstruir o discurso é bom para construir a consciência crítica. Outra linha é desconstruir também o conteúdo: mostrar o que ele passa, é um caminho interessante”, disse Rachel.